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segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Construir comunidades, criar lugares usando o senso comum

Prisioneiro do momento que passa ou do que acontece e não nos satisfaz? Não. A vida, felizmente, não fica presa nem ao momento nem ao acontecimento, muito menos ao que nos custa mais a tolerar.
Por isso aqui trago o registo de uma gostosa conferência em que foi oradora Cynthia Nikitin, vice-presidente de uma organização de fins não lucrativos sedeada nos EUA, a PPS - Project for Public Spaces, proferida na FCT - Universidade Nova por ocasião da cerimónia de entrega dos diplomas aos finalistas do curso de pós-graduação em Desenvolvimento Sustentável - Agenda Local XXI.
O tema interessava-me: como fazer do espaço público um lugar.
A primeira imagem da sucessão de slides em que se apoiou deixou-me de pé atrás. Tratava-se de uma foto-exemplo de um praça excepcional que todavia não era, para Cynthia, um lugar. A foto era, nem mais nem menos, da praça adjacente ao nosso Padrão dos Descobrimentos. Aquela, a da majestosa rosa-dos-ventos.
Como aceitar que um estranho, por mais douto e entendido, despreze uma obra que é um dos ex libris da Capital? Confesso que não foi dificil compreender a mensagem após a oradora fazer desfilar diante de nós exemplos de praças menos majestosas mas repletas de vida, de crianças, de adultos, de idosos. Um lugar feito comunidade onde as pessoas vão para conviver numa mesa de esplanada, para jogar, para passear, ou simplesmente para estar...
Não pude deixar de pensar noutros locais de Lisboa. Lindíssimos e...desertos. Ou simples passagens para outros locais.
Hoje, que muito se falou do Terreiro do Paço a propósito do início das obras de reabilitação, faço votos para que o projecto permita que aquela magnifíca praça volte a ser, como no passado de que nos fala a História, um lugar. Um lugar de encontros.

Recomenda-se uma voltinha pelo sítio do PPS. Por aqui, se faz favor.

3 comentários:

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

José Mário
Com efeito, Lisboa tem lindíssimos monumentos, verdadeiros ex-líbris, e uma situação geográfica única, que faz inveja a muitas capitais europeias, e no entanto não somos capazes de lhes dar vida, de criar movimento à sua volta, devolvendo à fruição pública - dos cidadãos e dos turistas - os espaços circundantes.
Pela Europa fora qualquer praça que se preze é um ponto de encontro de pessoas, de convívio geracional, de concentração de artes e costumes e de atracção turística. Em Portugal não é incompreensivelmente assim. Não admira, portanto, que quem nos visite não fique surpreendido!
Reabilitação e revitalização não são equivalentes. Em relação ao Terreiro do Paço, que poderia e deveria ser o primeiro cartão-de-visita da Capital, o que está anunciado é a sua reabilitação, que está aliás envolta em polémica. Também já estamos habituados. A reabilitação não é sinal de que o Terreiro do Paço vai ser devolvido às pessoas, fazendo desta belíssima e única Praça um espaço de fruição, uma sala de estar que convida a aí permanecer, seja para passear ou descansar, tomar um café ou uma refeição, olhar o rio e ver o sol brilhar, fazer umas compras, visitar um museu, assistir a um espectáculo português, etc.
Aguardemos para ver...

Suzana Toscano disse...

É verdade, com o clima que temos e o povo afável que somos há muito pouco hábito de convívio ao ar livre, as esplanadas são poucas e as praças desertas, ao contrário do que se vê nos outros países, já nem falo de Espanha, onde isso é uma cultura, mas em qualquer outro, muito mais frio. Na Holanda mal sai um raio de sol é uma multidão, até trazem cadeiras e mesas para o passeio em frente de casa e ficam as famílias todas cá fora, as praças estão sempre a abarrotar, mas também em Paris, ou em Londres os espaços públicos são feitos para as pessoas. Aqui privilegiamos os centros comerciais, o que se há-de fazer, se têm tanto sucesso?

Bartolomeu disse...

No seu comentário, a Drª. Margarida refere uma expressão interessante "atracção turística", no comentário seguinte, a DRª. Suzana, refere "hábito de convívio".
Cada lugar possui uma energia própria,a qual, de acordo com a sensibilidade de cada ser, poderá ser mais ou menos forte, positiva, ou não.
Desde ha muito tempo, que essa questão da energia telúrica foi esquecida. Como exemplo, recordo que todos os templos que perduram nos nossos dias, para além daqueles que foram erguidos sobre as ruínas de outros anteriores, foram marcados segundo o critério rigoroso de respeito por estas forças. Eram os antigos vedores que marcavam a precisa localização do templo, assim como a sua posição relativamente aos pontos cardeais e às linhas de água existentes no solo.
Estes cuidados visavam precisamente potenciar os aspectos referidos: atrair e conviver, ou seja, congregar.
A majestosa praça da rosa-dos-ventos, sente-se claustrofóbica, a grande superfície lisa em pedra mármore, o círculo e a proximidade do Padrão, conferem ao conjunto uma ambiência redutora para o ser humano, a "ajudar à festa" está o facto de, se for Verão, naquele espaço não existem sombras, se for Inverno, não existem abrigos e no descampado o vento norte que habitualmente fustiga o local, faz com que a vontade de permanecer no local seja fraca.
;)
Contudo, a proximidade do rio e o panorama que dali se pode desfrutar, atraem a atenção.
Se repararmos, o monumento que constitui a rosa dos ventos, apesar de ser de uma beleza enorme, não é fácil de ser apreciado no local. As fotos retiradas de um plano elevado é que conferem ao local a dimensão que ele realmente encerra.