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quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Lembrando Antero

Alguém, em comentário a um post sobre a polémica a propósito do mais recente livro de Saramago, se lembrou de Antero de Quental. Apeteceu-me recordar dele um poema de que tinha uma memória já difusa. Encontrei-o. Com gosto aqui o partilho.


O Convertido

Entre os filhos dum século maldito
Tomei também lugar na ímpia mesa,
Onde, sob o folgar, geme a tristeza
Duma ânsia impotente de infinito.

Como os outros, cuspi no altar avito
Um rir feito de fel e de impureza…
Mas um dia abalou-se-me a firmeza,
Deu-me um rebate o coração contrito!

Erma, cheia de tédio e de quebranto,
Rompendo os diques ao represo pranto,
Virou-se para Deus minha alma triste!

Amortalhei na Fé o pensamento,
E achei a paz na inércia e esquecimento…
Só me falta saber se Deus existe!

5 comentários:

António Transtagano disse...

Que eu saiba ninguém postou o nome de Antero Quental, nos comentários feitos a propósito das declarações de Saramago!

O poeta que foi nomeado nos comentários que fiz foi Guerra Junqueiro!

Anónimo disse...

Tem razão. Quer o caro António Transtagano contribuir com umas passagens da "Velhice do Padre Eterno" que viriam a propósito?

António Transtagano disse...

Acho que seria um exercício, de todo, desnecessário e inútil!

Primeiro, porque seria ofensivo, dado o nível cultural dos Autores do 4R.

Depois, para os comentadores "não residentes" do Blog que eventualmente desconheçam A Velhice do Padre Eterno, podem ter acesso através da Net a significativos poemas daquele livro, tais como "O Melro", "Como se faz um Monstro" e A Benção da Locmotiva".

Wegie disse...

Metendo pela Rua de S. Brás, encaminha-se a passos lentos para o Campo de São Francisco, uma ampla praça pública de Ponta Delgada. Aí, senta-se num banco, junto do muro do convento da Esperança.. Nesse muro, por cima do banco, um dístico em pedra lavrada mostra a palavra esperança sobreposta a uma âncora. Antero sorri. Esperança e uma âncora que o segurem à vida, eis precisamente o que lhe falta.
Olha o largo, com as suas árvores, com as suas simétricas placas redondas de relva, circundando o pequeno coreto implantado no centro. Há pouca gente. Uma senhora passa perto levando pelas mãos duas crianças. À memória ocorre-lhe a imagem de um menino passeando ali, pela mão de seu pai, muitos anos atrás. De tudo, o pior mal é ter nascido, pensa.


Soam dois tiros...

Bartolomeu disse...

Muito a proposito caro Dr. José Mário.
A citação do nosso caro amigo António, remete-nos para uma esfera diferente desta sua. Contudo, ambas se enquadram num contexto que nos leva a concluir com elevado grau de segurança que, desde sempre os "nossos" intelectuais, delactaram a diferença entre religião, poder religioso, fé e o entendimento da existência de Deus.
Para os simples, basta-lhes saber que acima da sua cabeça, reinam outras a que deve obediÊncia.
Para aqueles que antes de ajoelhar precisam saber a quem se ajoelham e porque se ajoelham... bom, para esses os poderes eclesiásticos, assentam em dogmas e... por muito esforçam que façam, escapam-se-lhes ao entendimento.
Eu, simples e comum mortal, não entendi aínda o primeiro capítulo deste "livro" escrito de contradições.
Passo a explicar: Em criança recebi os primeiros ensinamentos religiosos, ensinaram-me onde, quando e como, nasceu Jesus Cristo, ensinaram-me como viveu, quem conheceu, com quem falou, o que ensinou, por que lutou e em defesa de quê, ofereceu a sua vida.
Tudo isto, "encaixei" na perfeição. Depois, confrontei-me com um "enígma" que até hoje não fui capaz de resolver. Quem me ensinou tudo isto, foi a igreja católica, primeiro na catequese na igreja da minha paróquia, depois, meia-dúzia de anos mais tarde, nas aulas de religião e moral. E pensei: Se Jesus Cristo, filho de Deus, nasceu entre os homens, filhos de Deus tambem, para os reconduzir à observação, ao respeito pela palavra divina (mandamentos) e se antes de ser julgado e crucificado, ordenou aos seus apóstulos que continuassem a difundir a palavra de Deus pelo mundo, e fundassem a sua casa, e se, toda a palavra de Jesus Cristo foi no sentido da tolerância, da fraternidade, da igualdade, do apoio e protecção aos mais desfavorecido, foi em suma, no sentido de elevar o ser humano na sua essência, de o aproximar espiritualmente do Pai, como que a igreja ao longo dos tempos e ainda na actualidade é numa parte bastante significativa de si e daqueles que a representam, a negação dessas regras?