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quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Maldito acordo ortográfico!


Os efeitos do polémico acordo ortográfico estão a fazer-se sentir de forma inesperada, gerando a maior dificuldade em entender palavras que antes tinham um sentido preciso e que hoje se tornaram autênticas nebulosas.
Por exemplo, há uns anos falava-se em orçamentos suplementares, na altura em que se recorria a alterações do orçamento para aumentar a despesa. Mas houve um ano em que o objectivo era apenas alterar a despesa e não aumentá-la e, para marcar a diferença, passou a chamar-se orçamento rectificativo. Essa expressão foi consagrada até que hoje ouvimos o Ministro das Finanças anunciar que vai propor um orçamento, não rectificativo, não suplementar, mas redistributivo, ao que parece porque a razão que o determina não é nenhuma das outras. Depois de muito instado pelo confuso jornalista, que teimava em lembrar os qualificativos anteriores, o Ministro acabou por remeter para a “expressão técnica” da Lei de Enquadramento que fala em “alterações orçamentais”.
Também tivemos hoje oportunidade de assistir, durante 4 horas, a um debate no Parlamento do qual deveria ter resultado claro se havia, ou não, a suspensão do sistema de avaliação dos professores. Em vão. Não houve suspensão, diziam uns, antes se optou por dar orientações para que as escolas não desenvolvam “procedimentos desnecessários”, uma vez que o modelo vai ser alterado. Outros diziam que sim, que devia haver suspensão, porque sem isso vão continuar os procedimentos necessários porque os outros, os tais que seriam desnecessários, já não teriam lugar em caso algum, precisamente porque o modelo vai ser substituído. Ou seja, não se suspende o que já não se faria ou suspende-se o que estava a ser feito? Em todo o caso, parece que a suspensão deu lugar à substituição, para evitar a confusão (salva-se a terminação…).
Há também o caso da dívida externa, que aumenta com o consumo mas não é para aqui chamada quando se trata de fazer obras públicas que exigem empréstimos, não, isso não é dívida, mas investimento.
O que me parece é que os críticos do acordo ortográfico nunca suspeitaram que a confusão entre factos e fatos era muito mais grave do que se podia prever. É que, na criatividade portuguesa, ao cair o “c” os factos deram lugar a fatos…à medida!

4 comentários:

Anónimo disse...

É mais fácil e muito menos confuso do que parece, Suzana.
O governo vai propor um orçamento rectificativo suplementar redistributivo, depois do governo ter concluido que afinal o aumento do endividamento não passava afinal de investimento. Isso evitou a entrada de um orçamento suplementar rectificativo distributivo, depois de liminarmente descartada a hipótese de apresentação de um mais exigente orçamento distributivo suplementar rectificativo.

O que se passou no Parlamento a propósito da avaliação também não é bicho de sete cabeças. Passo a explicar. O PSD concordou em colaborar na alteração do actual modelo de avaliação sem o suspender, tendo contudo acordado com o PS que apesar de não suspenso, nenhum professor será obrigado a respeitar esse modelo nem tão pouco sofrer consequências se não o cumprir.

Claríssimo

Pinho Cardão disse...

Claríssimo!...
Transparentíssimo!...
Como é que eu não estava a perceber?

Suzana Toscano disse...

Uf, afinal era simples de entender, obrigada, Zé Mário, vou actualizar o meu vocabulário eliminando as velharias que já não querem dizer coisa nenhuma...

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Suzana
A nossa língua é muito rica e por isso fornece mil e uma palavras para todas as ocasiões, para todos os fatos (não "factos") e feitios. Se assim não fosse, o que seria da inovação do discurso? Assim, estamos em permanente evolução...