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sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A praxe das reuniões

Um amigo meu, que viveu a maior parte da sua vida adulta fora de Portugal e regressou há pouco tempo, está a viver a heróica fase de tentar entender a nossa lógica e os nossos modos de viver.
Há dias queixou-se de ter tido uma reunião que começou muito depois da hora marcada, se prolongou durante o jantar e continuou, diz ele que não sabe até quando, porque veio embora quando achou que não tinha mais nada para contribuir. Estava perplexo com a inutilidade de ter insistido previamente sobre as regras de eficácia de uma reunião e de, apesar disso, tudo se ter resumido a uma grande perda de tempo.
Tive então que o esclarecer que isso de tentar que uma reunião aqui no burgo seja eficaz é a prova de que ainda não está devidamente aculturado, as reuniões fazem-se precisamente para distrair de qualquer tentação de eficácia, e para desmoralizar os ingénuos que julgam que mandam alguma coisa.
Nada como uma bela reunião interminável para os homens chegarem a casa fora de horas, mal humorados e a enxotar os miúdos com a desculpa “tive uma reunião dificílima, não quero que me macem mais hoje!” enquanto as mulheres, se apanhadas na mesma armadilha colectiva, chegam esbaforidas a casa, atiram com a mala e com os sapatos altos, gritam umas desculpas para a família que está a ver televisão na sala e vão directas à cozinha onde começam a fazer o jantar a toda a velocidade, antes que a tribo rosne com fome e com os horários todos atropelados para o dia seguinte.
É por isso que é absolutamente pacífico entre as mulheres modernas que, quando forem as mulheres a mandar nas empresas, essa balbúrdia das reuniões intermináveis e inconclusivas acaba no mesmo dia, o que obrigará os cavalheiros a procurar outras formas mais subtis de não por os pés em casa enquanto o jantar não estiver na mesa e os filhos a dormir…
Eu acho que ele não levou muito a sério este meu aviso e disse que a minha explicação daria um post engraçado. Por isso aqui o publico, na esperança de que me ajudem a integrar um cidadão regressado à Pátria explicando com o que pode de certeza contar, poupando-lhe algumas contrariedades!

8 comentários:

Bartolomeu disse...

Não sei cara Drª Suzana se, chegado o dia em que sejam as mulheres a mandar nas empresas, se atinja o objectivo que o seu amigo deseja.
Olhe cara Drª., conheço uma mulher-gestora que marca reuniões para discutir (leia-se, expôr) as decisões que já tomou, mas que finge colocar em discussão e até estar aberta a sugestões. No final, depois de todos os que participaram na reunião exporem os seus pontos de vista, a senhora resume a decisão (invariávelmente desadequada) que já tinha tomado "enfeitando-a" com estorietas do percurso da sua carreira que foi recheada de excelentes golpes-de-vista e realizações extraordinárias e remata: aqui quem manda sou eu!
Pimba!!!
Nessa altura, todos os participantes olham atónitos uns para os outros e, já fora do gabinete interrogam-se: mas afinal para que é que viemos a esta reunião?

Fartinho da Silva disse...

Concordo com o Bartolomeu, ainda não encontrei uma gestora portuguesa que não demonstrasse de forma clara que era uma gestora... portuguesa!

Quanto às reuniões, julgo que somos o país onde se passa mais tempo sem trabalhar, ou seja, em reuniões completamente inúteis!

António Transtagano disse...

Seria alguma daquelas reuniões intermináveis e inconclusivas do PSD?

Falando a sério: acho que a coisa não depende do género, mas de pessoas. Há homens e homens e há mulheres e mulheres. Há homens competentes e mulheres incompetentes. Como também há mulheres competentes e homens incompetentes... Por isso, eu sou contra as quotas!

Catarina disse...

O seu amigo, cara Suzana, se chegou da Alemanha (ou de outro país do Norte da Europa), do Japão ou da América do Norte, tem muito que aprender relativamente a pontualidade e, de certa forma, a eficiência. (Sem ofender os que realmente são pontuais e eficientes na sua vida profissional e familiar). Ele terá duas opções: ou “aprende” e vai na onda ou então terá muitos momentos de stress. Remar contra a maré não creio que vá dar...

Concordo com Fartinho da Silva quando afirma: “...julgo que somos o país onde se passa mais tempo sem trabalhar.” Por que uma reunião ultrapassou o tempo projectado para a sua duração não quer dizer que foi bem sucedida. Provavelmente, ou porque alguns dos presentes chegaram atrasados ou porque não foram eficientes na sua participação, como parece ter sido o caso dessa reunião.... e de muitíssimas outras.

“Time is money” . Enquanto se espera não se produz, dizem os americanos.

O factor cultural tem muito a ver, evidentemente. Afinal, uma hora tem sessenta minutos em toda a parte do mundo, creio eu! É tudo uma questão de atitude. Em certos países, nomeadamente, Portugal (!!!!) até para se divertirem chegam atrasados! Eu não uso a primeira pessoa do plural do verbo “chegar”... porque sou muito pontual... não só por natureza ... : ) mas porque trabalho num ramo em que raramente poderei chegar atrasada!

E quando a gestora tem que demonstrar que é gestora, não é que tenha mais propensão a ser autoritária que o seu homólogo masculino. É que, infelizmente (e já estamos no séc. XXI), em determinados sectores (predominantemente .... ainda..... masculinos), parece que se sente na necessidade de se afirmar, de demonstrar que pode desempenhar as suas funções tão bem como... E isto continua a ser uma realidade.

Quando esse senhor acabado de chegar, estiver em Portugal ... digamos... um ano, e continuar a ver os mesmos buracos nos passeios,(apenas alguns items de uma longa lista), as mesmas ruas com os mesmos altos e baixos... os carros estacionados em cima dos passeios na parte que dá acesso às cadeiras de rodas (como tantas vezes tenho visto), e as passadeiras para os pedestres mesmo à saída de uma rotunda...(realmente, o local ideal para atravessarmos em segurança!!!) ... então, vai decidir regressar de onde veio... ou então, considerando a situação por um prisma mais optimista: apaixona-se pelas nossas paisagens, pelo nosso sol e pelas nossas praias... sem falar na nossa rica e divina gastronomia...e acaba-se por se habituar: As coisas não são para se fazer, são para se ir fazendo...

demascarenhas disse...

Cara Suzana, ora aí está um assunto que eu conheço por dentro – o das reuniões. Quer quanto à praxe quer quanto à praga das ditas.
Para já, é bom que se tenha a noção de que a maioria dos quadros das empresas encontram-se sempre num de dois estados - ou ao telefone ou em reunião. Mesmo que o nosso quadro esteja na casa de banho a ler a "Bola" ou tenha dado uma escapadela ao centro comercial para fazer uma compra, a técnica da reunião funciona sempre, dando a quem os procura a ideia que aquele tipo é um mouro de trabalho.
Mas, sejamos justos, algumas vezes também estão em reunião. Só que é preciso ter cuidado, a regra de ouro a ter em atenção é a de nunca deixar tudo completamente resolvido para que se possam marcar as próximas reuniões sobre o mesmo assunto.
Outro aspecto que é fundamental transmitir é a da ideia de que as reuniões em que se participa são apenas algumas das muitas em que se está empenhado e que lhe tomam o tempo todo. Cai sempre bem mostrar tanta ocupação.
É assim que se alimentam as agendas e se criam as ilusões. Independentemente do sexo do quadro em questão.
É bom que o seu amigo “estrangeiro” se habitue. É que estamos em Portugal.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Suzana
O seu amigo deve andar de "cabelos em pé"! Mas vai ter que se ir habituando porque liderança, organização e gestão, salvo honrosas excepções, são capacidades pouco desenvolvidas entre nós.
Não será tanto uma questão de género, mas antes uma questão cultural, muito embora as mulheres tenham uma vantagem competitiva em relação aos homens, que lhes advém do facto de terem a seu cargo a gestão familiar e doméstica, sendo nelas que toda a família confia para que tudo funcione bem. E a gestão da "casa" é muito complexa, não só porque obriga a ter em conta as diversas sensibilidades e quereres, mas também porque são múltiplas e variadas as tarefas.
Esta capacidade que é exigida às mulheres é-lhes depois muito útil na vida profissional.
Recomendo ao seu amigo que, tanto quanto lhe for possível, inclua mulheres nas equipas que gere pois podem dar efectivamente uma grande ajuda.

jotaC disse...

Cara Dra. Suzana Toscano:
As reuniões são, actualmente, uma autêntica virose. E digo virose porque não há Empresa ou Instituição para onde se ligue para falar com um srº sicrano qualquer de um assunto modesto, mas de interesse comum, em que a resposta não seja invariavelmente esta: o Srº Sicrano não pode atender, está numa reunião que se prevê venha a acabar tarde; deixe o seu contacto que depois ligamos. É inacreditável! Tanto mais que o Srº Sicrano não é sequer um quadro importante!? Experimentem ligar para a ANCP-E.P e vão ver se a resposta não é mais ou menos esta: o srs. doutores não podem atender, estão em reunião, envie as suas questões por e-mail…
Ao longo da minha vida profissional assisti a algumas reuniões, mas foram poucas aquelas com substância e objectivo. A maioria delas foi mais para ouvir quem a convocou, ouvir-se a si próprio, num monólogo enervante…
Mas é claro que também há reuniões marcadas com objectivos precisos, em que o tempo de decisão é imposto, não se fica ali a engonhar… Lembro-me de uma destas, por acaso de cariz político, liderada por um eminente jurista aí da praça, M.S., cujo ponto único era sensibilizar toda a comitiva, desde o mais eminente assessor ao mais simples colaborador, para estarem preparados a dar as respostas mais adequadas no caso de interpelados na visita a Macau (um ano antes da entrega). A reunião durou apenas uma hora, mas houve tempo para toda a gente ser esclarecida das questões que levantou.
Pois eu acredito que as mulheres são mais organizadas do que os homens e, por isso, quando a liderança for delas o mundo será melhor, com certeza. É óbvio que haverá sempre umas manhosas que não vão contar para a estatística! :)

Anónimo disse...

Pois cá pelos meus lados na última reunião concluiu-se que...reunimos pouco!