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quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Azares e responsabilidades

Vi hoje na revista El Pais Semanal imagens do leilão dos bens de Madoff, a fase final de execução para pagamento de indemnizações aos lesados. Vejo agora na televisão as manifestações dos clientes do BPP, que há mais de um ano têm as suas contas congeladas sem saberem o que vai acontecer. A esta notícia segue-se a de que ninguém assume responsabilidades pelos prejuízos causados pela interrupção de fornecimento de electricidade, durante vários dias, em várias localidades e residências. E depois ainda outra, a de duas pessoas gravemente feridas há 7 meses, num acidente num carrocel de feira, sendo que a companhia de seguros deixou de pagar os tratamentos porque se concluiu que a culpa não foi do empresário segurado. Entretanto, a segurança social tinha deixado de pagar o subsídio de doença porque a seguradora já estava a indemnizar e entretanto a seguradora diz que nunca falou com a segurança social e que só “ajudou” por razões humanitárias enquanto o processo de averiguações decorria.É verdade que estes são três casos completamente diferentes, em sectores distintos e com causas que não têm nada em comum. Excepto numa coisa: não há responsáveis, nem indemnizados.

8 comentários:

Carlos Monteiro disse...

No entanto, um banco em falência continua a ter as suas oportunidades de negócio para os seus dirigentes, que são donos de empresas prestadoras de serviços desse mesmo banco...

Suzana Toscano disse...

Pois, deve ser por ser muito complicado que não se resolve nada, quantos bancos haverá na Europa que entraram em crise e têm as contas das pessoas congeladas há mais de um ano? Deve ser uma complexidade muito lusitana...

Insatisfeito disse...

Cara Suzana Toscano

Os exemplos que refere resolviam-se em três tempos se houvesse, de facto, um estado de direito.

Com uma Justiça que funciona a trouxe-mouche, que repete no seu interior kafkiano os percursos sinuosos dos métodos de (não) resolução dos problemas, ela torna-se parte do problema e impede a sua resolução.

Ora não funcionando essa peça fundamental na vida de uma colectividade é como termos um carro ... sem gasolina.

Não admira pois que não hajam responsáveis nem indemnizados, porque a culpa foi ... do canário.

Cordialmente

Medina Contreiras disse...

Desculpem mas sou capaz de ir contra a corrente. O Estado devia ter deixado, pura e simplesmente, falir aquele banco (BPP). E os depositantes teriam que se entender nos tribunais com vista à recuperação do que lhes pertence se um acordo não fosse possível. O pior foi o Estado ter-lhes alimentado a expectativa de que seriam restituídos. Mais uma vez, meteu-se onde não devia. Nesta medida, talvez os protestos possam ter alguma razão de ser. Mas só porque o Estado prometeu o que não devia. Aqueles depositantes, não fora o bico comprido do "patrão" Estado e eu não teria, sinceramente, muita pena deles. Até o galego veio cá protestar. Com tantos bancos em Espanha bem mais sólidos, veio cá fazer o quê? Deixar o ovo na mira da multiplicação fácil, da D. Branca dos ovos de ouro? Foi isso! Foi a ganância. Diz-se que o Rendeiro não aceitava "depósitos" abaixo dos 100.000 ou 150.000? Pequenas poupanças? Tudo é reltivo, é certo, mas o que não lhes terá sido prometido? E não é verdade que quando a esmola é grande, o pobre desconfia... Pelos vistos, não desconfiaram.

jotaC disse...

Cara Dra. Suzana Toscano:
Quanto mais penso nestas questões, mais convencido estou que a causa desta indignação popular é a falta de ética de uns tantos…

Suzana Toscano disse...

Caro Medina Contreiras compreendo perfeitamente o seu ponto de vista e não me parece que vá assim tanto "contra a corrente", como diz. Na verdade, com razão ou sem ela - e recordo que na altura o Governo invocou os "riscos sistémicos" para intervir na situação de dois bancos privados - criaram-se expectativas de "salvação" ou nem sequer assim tanto, apenas as que resultaram de uma intervenção dos poderes públicos que, poderíamos presumir, não se destinariam a piorar a situação das pessoas... O que acontece é que essa intervenção baralhou por completo as regras do jogo, congelou, adiou, iludiu, desiludiu e ainda hoje não se sabe em que sentido se dará a solução, se é que vai haver. Nem resolvem nem deixaram resolver, foi o que foi, e isso é suficiente para que todos agora tenham razão de queixa, mesmo que à partida não tivessem de que se queixar a não ser das suas opções privadas de investimento.
Pois é, caro jotac, mas o mais grave é que já são muitos a pensar que nem vale a pena ter ética nenhuma porque com ética ou sem ela lá se vão safando sem distinção...

Freire de Andrade disse...

Pode acrescentar ainda o caso também relatado ontem de os atingidos por uma tempestade em Abril de 2008 estarem ainda à espera das prometidas ajudas do Estado. Aqui não se trata de assumir responsabilidades, mas de cumprir a tempo o que se prometeu. Que segurança podem ter os prejudicados agora pelas tempestades em Torres Vedras e zona Oeste?

Suzana Toscano disse...

É verdade, também vi essas pessoas a contar que continuam à espera. Mas também vi as cheias em Loures, mais uma vez, outra vez os mesmos argumentos, as mesmas causas, a mesma falta de dinheiro ou os azares da engenharia que só trabalha a seco...