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segunda-feira, 22 de março de 2010

O PEC-"fetiche"? Lamento, mas não assumo...

1. Tenho-me dado conta de que está em curso uma operação mediática intensíssima que parece ter como objectivo transformar o PEC numa espécie de “fetiche”, com a virtude de sinalizar, misteriosamente – a médio prazo, claro - melhores dias para a economia nacional e para os portugueses...
2. Ainda não se lembraram de dizer que Barack Obama está de alma e coração com o PEC, que até se comoveu imenso quando o leu, mas esse decisivo argumento ainda pode ocorrer um dia destes...
3. Esta tentativa de criação de um estado de alma colectivo, em torno de um PEC-“fetiche”, serve, entre outras coisas, para estabelecer uma distinção entre bons e maus cidadãos:
- Os bons são os que estão com o PEC (ou pelo menos não estão contra ele), são responsáveis e não querem que a imagem do País no exterior se degrade ainda mais...
- Os maus, que estão contra o PEC, desprezam o interesse nacional, não se apoquentam com o mau juízo que os credores possam fazer de nós...
4. Entretanto, usando uma figura de retórica própria dos criativos das agências de comunicação, o PM terá declarado, no fim-de-semana, algo de semelhante a “espero que o PEC venha a ser assumido pelos portugueses...”.
5. Dei comigo a pensar sobre o significado desta sábia expressão, bem como no convite, nela claramente ínsito, dirigido a cada um dos contribuintes lusos para que assumam a fé no PEC-“fetiche”...
6. Assumir uma aposta no PEC-“fetiche” implica um acto de vontade consciente e livre, que terá como melhor pressuposto - para além do óbvio desconhecimento do seu conteúdo - uma forte crença nas qualidades do documento/plano em questão para relançar a economia e definir um rumo de consolidação para as finanças públicas...
7. Para azar meu certamente, nada neste argumentário consegue convencer-me: não creio, por razões já aqui expostas mais de uma vez, que o PEC seja o instrumento adequado para dar um novo alento à economia ou tampouco para corrigir as insuficiências crónicas das finanças públicas.
8. E também não me considero em condições físicas e anímicas para acreditar de olhos fechados num PEC-“fetiche”...
9. Quando muito, como contribuinte cumpridor que tenho sido, lamentando não estar disposto a assumir o PEC-“fetiche”...terei de aceitar resignadamente o PEC-"só" - e já não é pouco, parece-me!

16 comentários:

LPereira disse...

O PEC dos portugueses contribuintes é muito bonito e as frases dos nossos governantes muito encorajadoras. O que eles não dizem é que são sempre os mesmos a pagar a mesma factura. Políticas mal tomadas, dinheiro desperdiçado, carros topo de gama, regalias em cima de regalias, e no fim, paga povo trabalhador!
Não ponho em causa as medidas que têm de ser tomadas, antes o carácter estrutural e cíclico dessas medidas que chaga a ser repugnante. Sempre a apertar o cinto! Deste modo, os portugueses ainda ficam anorécticos. :p

Manuel Brás disse...

Resignados e, salvo seja, com a alma "vendida" ao Diabo (como hoje lembrou o Dr. Vítor Bento):

Como na lenda popular
o futuro foi vendido,
numa visão tão singular
sobre um país perdido.

Da liberdade hipotecada
depois de tanto esbanjamento
fica a quimera ressacada
por tamanho endividamento.

Nestes anos decadentes,
difíceis de afigurar,
os mexilhões tão prudentes
estão prestes a estoirar.

Anónimo disse...

Somos pelo menos dois, meu caro Tavares Moreira.

Bartolomeu disse...

O problema é que, mesmo não o assumindo, se o PEC for aprovado, todos irão ter de o pagar... os bons e os menos bons portugueses... os realmente maus portugueses, serão os únicos capazes de lhe escapar.

Pinho Cardão disse...

Este não é PEC, quando muito será um PE.
Lamentável é que a necessidade de um PEC não radica na crise de 2009, mas nas políticas públicas erradas DE 2009 E DOS ANOS ANTERIORES, que levaram a uma estagnação da actividade económica, como muita vez se tem dito aqui no 4R.
As medidas do PE não trazem crescimento, quando muito uma redução do défice. Mas sem reduzir a dívida pública que, em 2013, será maior do que actualmente. São números do Governo. O que significa que em 2013 a pressão dos mercados terá ainda uma mais grave amplitude.
O grande fracasso das medidas que visam o crescimento através da despesa pública está nos vários pseudo-PECs que os portugueses têm sido obrigados a cumprir. Lamentavelmente, no fim de cada PEC, a despesa pública é mais elevada do que antes e a dívida pública também maior. Õs nossos PECs têm sido verdadeiros anti-PECs. Mas sustentados por todod os bem pensantes.

André disse...

Caro Tavares Moreira,

Como escreveu Sousa Tavares e muito bem, numa crónica do Expresso, o PEC é o Plano de Extermínio do Contribuinte! Eu revejo-me mais nesta análise ao PEC. Julgo que também que se a Grécia for apoiada pela UE, então haverá ainda menos precupações com este PEC. Ao que parece, a Alemanha está cada vez mais isolada nesta luta pelo bom senso das Finanças Públicas.

Adriano Volframista disse...

Caro Tavares Moreira

Este governo, como os carabineiros de Offenbach, chega sempre um "tempo" atrasado.
Desde o final do ano passado que assim sucede.
O OGE foi pensado quando supunha que teria um ano para "flanar" por sobre o défice; quando o apresentou já estava em andamento a crise grega, os mercados passaram a estar mais atentos e, por esse motivo, chegou atrasado ao "tempo" correcto;
Temos de admitir que ao Governo não lhe falta imaginação para, dos poucos instrumentos que, ainda, lhe resta fazer o melhor possível.
O PEC foi a maneira de emendar a mão e fazer o pleno do 2 em 1, acalmar os mercados e arrumar a oposição.
Para mal dos pecados chega atrasado, porque a solidariedade europeia parece ter-se esgotado e poderá não existir o "conforto" de um fundo para os aflitos.
(O signatário era um dos que supunha que o mesmo seria criado mas, devo-me ter enganado. De todos os modos, no final da semana ja saberemos).
O PEC não parece que tenha acalmado os mercados e, por aquilo que se está a desenrolar na Europa, nem sequer poderá contar como candidatura para o fundo dos aflitos, caso o PEC corra mal...
Resta a oposição e, pelo que vejo, esta não está convencida e, de dia para dia, aumenta a desconfiança....
Este governo que tinha gizado o plano de erigir o PEC como a "mãe de todos os contratos" que amarraria a oposição às sua políticas, arrisca-se a subscrever uma letra sacada sobre um banco manhoso e desconhecido, suportada por garantias mais do que duvidosas...
Pessoalmente, considero que estamos no meio de uma manobra política que, na sua origem tinha um grau elevado de sofisticação, mas que as circunstâncias estão a transformar numa manobra ranhosa e rasteira.
É a vida......

Cumprimentos
joão

Tavares Moreira disse...

Caro L Pereira

Tem toda a razão, a questão de quem suporta o ónus dos erros da política assumida, quem deve pagar a factura, seria sempre um ponto fundamental de uma política que tivesse preocupações mínimas de equidade...que não é o caso, evidentemente!
Só não percebo quando diz:"Não ponho em causa as medidas que têm de ser tomadas..." - mas a final põe ou não em causa?
É que a questão da injustiça que releva pertence ao âmago destas mesmas medidas...

Caro Bartolomeu,

É exactamente o que eu disse...apesar de não assumir, tenho de me resignar. como contribuinte cercado!

Caro Pinho Cardão,

A prpósito do futuro, tenho uma "leve" percepção de que a turbulência vai aumentar a prazo muito curto...basta olhar para os dados da execução orçamental dos primeiros 2 meses...será que vamos ter um Rectificativo dentro de algumas semanas?

Caros F. Almeida e M. Brás,

Congratulo-me com vossa adesão, em prosa e em poesia, à ideia de resistência moral e cívica ao PEC da nossa desesperança!

Caro João,

Interessante sua dissertação sobre o tema PEC...estamos mesmo defrontados com uma manobra de ínfima qualidade, é bem justo o seu comentário!

Tavares Moreira disse...

Caro André,

Quanto à sigla PEC, são infindáveis os arranjos que se podem fazer...Plano de Destruição do Caneco, Plano de Demolição da Comunidade, Programa de Delírio Consumado...
Quanto à Grécia, pelo caminho que as coisas levam, qualquer plano de ajuda deve ser equiparável a uma punição severa...vai servir de aviso sério para aqueles que se candidatam a um estatuto semelhante...com ou sem PEC...

Tonibler disse...

O PEC é uma bosta. Nisso concordamos todos. Mas o facto é que ninguém avançou com uma proposta concreta, diga-se em defesa do T. Santos e, portanto, o PEC é o melhor PEC que temos.

Porque o "Extermínio do Contribuinte" não começou ontem, começou há décadas quando os "Sousa Tavares" (para usar a referência do André) da vida elogiavam cada Euro e cada Expo que esta porcaria de povo aplaudia. Quando os "Sousa Tavares" da vida repetiam aos ouvidos de todos que "sem estado não havia motor da economia", era aí que o contribuinte era exterminado. E, ainda hoje, se um ministro das finanças retirasse o 13º e o 14º mês aos funcionários públicos definitivamente (o triste é que até eu tenho a solução, até eu...) em troca da segurança no trabalho, não faltaria "Sousa Tavares" por aí a falar de "ditadura tecnocrática" e de "falta de senso".

Por isso, onde anda o PEC bem feito?

Tavares Moreira disse...

Caro Tonibler,

Ninguém avançou com uma proposta?!
Mas quem é que tem de avançar com propostas numa matéria destas? Quem dispõe de toda a informação sobre o estado real das finanças públicas, para além do Governo?
Ou imagina que mais alguém para além do Governo dispõe dessa informação?
Se imagina está redondamente enganado...
Assim, essa argumentação de que ninguém apresentou alternativa melhor será sempre uma falácia...à qual tal como ao PEC-"fetiche" não posso aderir... I'm deeply sorry!

Tonibler disse...

Ora, caro Tavares Moreira, existe uma oposição que não quer ficar mal na fotografia. Porque o problema é haver uma fotografia. O governo, porque não quer ficar mal, inventa um falso plano, a oposição diz que o plano é falso mas não revela o verdadeiro porque não quer ficar mal. Resumindo, existe um PEC-"fetiche" com que todos vivem bem. Até porque, recordemos, não há PEC sem a oposição.

Tavares Moreira disse...

Caro Tonibler,

Duas excepções (mais a já declarada pelo F. Almeida) à regra de "viver bem com este PEC-"fetiche": a sua e a minha...
Quanto ao assunto da nossa divergência, meu Caro, ele é mais sério do que poderá parecer: o desconhecimento da real situação das finanças públicas é bem mais profundo do que se possa por aí imaginar...
Há imensas gavetas fechadas - o claviculário das Finanças recusa abrir e mostrar o conteúdo - onde se suspeita estarem bem guardados alguns tesouros-passivos que ninguém conhece, para além do dito claviculário...
Há requerimentos há longo tempo à espera de resposta do claviculário, provavelmente metidos nas mesmas gavetas dos tesouros-passivos...

LPereira disse...

Caro Tavares Moreira,

Tem razão na sua resposta, fiz-me entender erradamente. A minha intenção era manifestar a compreensão da existência de PE(C), mas não, claro, da injustiça social que ele induz.

Tonibler disse...

Caro Tavares Moreira,

Sabemos que o défice é um problema do estado a ser resolvido no estado. Seja qual for a dimensão da dívida/défice colocado debaixo do tapete, isto parece-me indiscutível e sem necessitar de ter um balancete detalhado e rigoroso para o exigir

Tavares Moreira disse...

Bela tirada, caro Tonibler...mas quanto ao âmago da questão, em que ficamos?
Continuamos à espera de soluções alternativas para o PEC?
Com base em que informação - a dos jornais?