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quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Uma "ética" duvidosa...

O ex-presidente da multinacional Hewlett-Packard (HP) – o mais importante fabricante mundial de computadores pessoais e de impressoras - Mark Hurd foi forçado a demitir-se na sequência da queixa de assédio sexual apresentada por uma consultora de marketing que trabalhava para a empresa.
A investigação iniciada em Junho concluiu que afinal não tinha havido violação das regras de conduta ética da HP em matéria de assédio sexual, mas descobriu que Mark Hurd tinha violado durante dois anos regras de conduta ética da HP respeitantes ao negócio, ao ter incluído nas contas da empresa despesas pessoais, incluindo almoços e viagens, envolvendo milhares de dólares.
Mas a demissão vai ser premiada com uma compensação, que inclui uma indemnização, “stock options” e outras garantias, num total que ascenderá a cerca de 40 milhões de dólares. Para se ter uma ideia do significado deste prémio, Mark Hurd está entre os dez CEO mais bem pagos do mundo, tendo auferido 34 milhões de dólares e 24,2 milhões de dólares de remunerações, respectivamente, em 2008 e 2009.
Tratando-se de uma violação ética, com a agravante de ter sido praticada por um responsável de topo, não será igualmente uma prática eticamente reprovável prever a atribuição de bónus a quem não respeitou o código de conduta a que estava obrigado? Que credibilidade tem um código de conduta que premeia financeiramente responsáveis ou colaboradores que o violam? E que sinais estão a ser dados para o interior da empresa e que consequências terão no ambiente de trabalho? E que mensagem está a ser transmitida ao mercado - accionistas, consumidores, fornecedores, etc?
A verdade é que o escândalo originou perda de valor da HP, com desvalorizações significativas nas cotações em bolsa das suas acções. Desde a saída do ex-presidente que a HP perdeu 7,5%. Parece que Mark Hurd foi durante cinco anos “um líder significativo e um visionário da empresa”. Embora um líder não seja insubstituível, certo é que a sua saída ou o seu desaparecimento podem causar graves impactos numa empresa. Mais uma razão para que um escândalo de ética de empresa não seja compensado com outro escândalo. Este caso é, com efeito, um péssimo exemplo!

10 comentários:

Bartolomeu disse...

Mas o amigo de Mark, o patrão da Oracle, Larry, declarou publicamente que a HP cometeu um erro imenso.
Não, não me parece nada um caso evidente de solideriedade masculina.
Eu acho que devia ter sido provada também, a violação de regras éticas, em matéria de assédio sexual.
Se assim fosse, imagine-se a quanto ascenderia o valor do prémio de compensação atribuído ao Mark... paí uns 140 milhões, tudo pa cima, nada pa menos.
;)))
O Bill Clinton, coitado, é que não teve a sorte de ser empregado da HP.
Ah... a musekinha... aki vai!
http://www.youtube.com/watch?v=wcpEte4plbw

ricardo disse...

O que é que nos interessa, se os donos da HP pagam muito ou pouco ou nada a este senhor.
Se pagam é porque acham que devem pagar e o dinheiro é deles.

jotaC disse...

Cara Dra. Margarida Aguiar:
O Srº Mark Hurd foi forçado a demitir-se da HP devido a acusações infundadas de assédio sexual. Tem, a meu ver, direito a ser indemnizado;
O Srº Mark Hurd foi justamente acusado da prática de atos gestionários proibidos pelo código de conduta da HP. Tem, a meu ver, o dever de ressarcir a HP.
Logo, o saldo resultante entre este deve e haver, deveria ser aquilo a que o srº Mark teria direito ou dever…
Mas, provavelmente, lá como cá, quando toca a prémios os números são gordos (cfr os prémios da pt e quejandas) - quem parte e reparte…
E quantos de nós não conhecemos gente que faz excelentes códigos de conduta, apregoa princípios éticos inquestionáveis e, ao mesmo tempo, mete a mão na massa!?

Catarina disse...

Caro Ricardo,
Realmente, não nos devia interessar nada. Mas interessa... interessa porque vivemos numa sociedade onde a globalização é cada vez maior e onde cada um de nós sofre (com mais frequência) ou beneficia – a curto ou a longo prazo - de decisões tomadas por quem tem influência (qualquer que seja a cariz desta influência) a nível mundial. Por que razão, então, teria havido uma desvalorização nas cotações da acções desta empresa? Por que teria perdido 7,5%? O impacto deste “escândalo”, afinal, teve e tem repercurssões graves. Para além disso, a ética é mesmo “duvidosa”!

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro ricardo
Não são os montantes que interessam, mas as condutas praticadas para lá chegar. As vezes os números podem auxiliar a melhor percepcionar o que está em causa.

Cara Catarina
Tem toda a razão.
Se pensarmos que a actual crise económica é consequência de uma crise financeira provocada pela voragem da ganância do dinheiro compreendemos que vivemos uma crise de princípios e valores. O famoso caso Bernard Madoff que deixou arruinados milhares de investidores e até instituições de solidariedade social e os milhões de pessoas que ficaram no desemprego mostram bem as consequências de condutas que atropelam a ética.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Bartolomeu
Não li a declaração do patrão da Oracle, mas presumo que o "erro imenso" tenha que ver com o prémio. Ou será outra coisa?
Quem deveria receber um prémio, isso sim, era o nosso Caro Bartolomeu pelas musiquinhas, perdão musekinhas, que não se cansa de pôr a tocar...

Caro jotaC
Costuma-se dizer que da teoria à prática vai uma grande diferença!

ricardo disse...

Caras Margarida e Catarina
Não consigo encontrar qualquer tipo de relação entre os proventos e a ética.
Se o dito senhor ganhasse pouco então a ética estaria salvaguardada?
E não estando a ética(que ética) em causa o valor das acções não seria afectado?
Do mesmo modo não vejo em que medida a crise económica actual, poderia ter sido evitada com doses de ética.
Quanto ao Sr. Madoff trata-se de uma vigarice comum, que como o dito Sr. explicou em tribunal foi inspirada no sistema de Segurança Social.

Suzana Toscano disse...

Suponho que as acções desceram por causa da saída de um presidente que era reconhecido como competente, duvido muito que tenha sido por repugnância moral por causa da falta de ética de incluir despesas que não devia ter incluido. Concordo com o Ricardo, não são os milhões de remuneração que nos devem impressionar mas sim o desempenho das pessoas nos lugares, é difícil de compreender que mesmo ganhando esses milhões se deixem tentar por hábitos que os tornam vulneráveis, de qualquer modo tenho sempre alguma desconfiança destes processos de assédio sexual que envolvem fama e milhões.

Catarina disse...

O não cumprimento da ética profissional resulta, de uma maneira geral, em sanções várias. Mas parece que esta regra não se aplica a executivos que, supostamente, deverão dar o exemplo, observando os princípios de respeito, integridade e confiança, alguns dos componentes da tal “ética profissional”. Qualquer funcionário de menor estatuto que infrinja os regulamentos do seu empregador pode ser despedido sem qualquer tipo de indemnização; se for um CEO o caso já é diferente como se tem lido e ouvido, com certa frequência, ultimamente. Porquê? Uma das razões é que bons advogados souberam redigir um bom contrato para o seu cliente (CEO). Pelo que tenho ouvido sobre este caso, há quem palpite que terá sido mais vantajoso para a HP pagar todos aqueles milhões do que ter um possível processo em tribunal uma vez que “viveu” outros escândalos com outros executivos num passado não tão distante. Será talvez uma especulação. Porém, não é de pensar que, ao fim e ao cabo, “a falta de ética” não afecta negativamente alguns? Neste caso parece tratar-te de irregularidades nos relatórios financeiros. Irregularidades de apenas $20 mil dólares! Um valor irrisório para quem tem (ou tinha) um salário anual de milhões! “Peanuts”! Mas não deixa de ser uma violação da “integridade e confiança”. Se fosse despedido não teria direito a indemnizações mas como permitiram que se demitisse...
Quer a indemnização seja de milhões quer seja de milhares, o princípio é o mesmo. Apenas os milhões dão mais nas vistas... e é mediatizado até à exaustão. Continuo a concordar com a cara Margarida. Estas situações têm uma repercursão negativa e afectam muita gente, dentro e fora das empresas. O valor das acções não diminuiu? Os accionistas não ficaram mais pobres, coitadinhos? E quem sabe se a nossa próxima impressora HP não será mais cara!

Catarina disse...

Faltou acrescentar. Se, na realidade, as acções desceram devido à saída de um presidente supostamente competente, pois para que serve a ética, afinal? Os resultados ($$$) é que contam? A honestidade, a transparência de desempenho/comportamento paralelo já não são considerados?