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quarta-feira, 15 de setembro de 2010

"Uma menina grande ou uma grande menina?"

Na vida somos, por vezes, sobressaltados com confidências únicas, inesperadas e cheias de emoção. Podemos saber muito, conhecer bem as pessoas, mas há sempre algo que nos escapa e que nos surpreende. É bom ser-se surpreendido, sobretudo quando nos toca particularmente, quando fomos protagonistas e companheiros de dores, angústias e tristezas e quando esse sentir se revela de uma forma poética, filha de uma existência única e irrepetível. É bom ser-se surpreendido! E é também bom surpreender!
Hoje, recebi um pequeno texto, lindo, repleto de ternura, mas ao mesmo tempo amargo e esperançoso.
Como considero que a única coisa que faz verdadeiramente sentido na vida é a beleza da poesia, não posso deixar de a partilhar...

“Os sonhos iluminam o seu ser, a imaginação é refletida num espelho mágico e a fantasia vive dentro do seu vermelho coração...
Através de janelas vê o que se passa lá fora, à sua maneira, à sua medida, à dimensão dos seus pensamentos. Interpreta tudo o que vê, sente tudo com muita emoção, mas poucos são aqueles que a entendem...
Os seus olhos ternos e coloridos de múltiplas cores, que por vezes parecem ausentes, veem o que mais ninguém consegue observar.
Há um segredo: ela é diferente, é especial! Dentro da sua cabeça existe um mundo, com céu e tudo... onde moram o mar, árvores, nuvens, peixinhos, flores, pássaros, princesas e príncipes e, até, algumas bruxas más...
Quando toca no céu da sua cabeça, sente-se a dona do mundo, quando toca as águas do seu mar transforma-se numa sereia. Brinca alegremente com os seus amigos peixes e canta a par com os pássaros de mil cores!
Quando é hora de ser a princesa, as luzes acendem-se e os suaves panos de tule esvoaçam; é a hora de voar, de dançar e de brilhar. É a hora de ser feliz!
À luz das estrelas, e da sorridente lua do seu céu azul-escuro, aparecem multidões de pessoas. Admirada por todos, batem-lhe palmas, sorriem-lhe e abraçam-na.
Todos cabem dentro da sua cabeça, até um enorme salão de baile enfeitado de cristais brancos, repleto de flores perfumadas e velas de vários tamanhos e feitios!
Entre os seus amigos, a menina dança ao som de melodias desconcertantes, enchendo-se de alegria e de doces sorrisos.
É tão bonito este mundo! Um mundo que não foi criado nem por Deus nem pela evolução dos tempos, mas sim, por ela. Criado por uma menina de apenas seis anos. Um mundo que dura há um quarto de século! Esperemos que continue a crescer, a evoluir e a ficar cada vez mais encantado e belo.
Um dia essa menina velhinha levará até lá os seus netos e mostrar-lhes-á todos os seus tesouros e segredos. Eles vão admirar-se e questionar como é que a avó viveu uma vida inteira dentro de um mundo tão secreto e paradisíaco.
A imaginação pode ser do tamanho do mundo ou até mesmo do universo, mas não é certamente maior do que o mundo que existe dentro da cabeça dessa menina.
Dedico esta história à minha infância, à menina de seis anos, que conseguiu encontrar dentro de si, o delicioso mundo dos sonhos!
Uma menina grande, mas no fundo...uma grande menina! “

Uma menina grande que esconde uma grande menina...

4 comentários:

Inês Massano disse...

E esta menina grande, sou eu!
Escrevi estas palavras a pensar em ti e na minha mãe.
Foram vocês que me ensinaram o caminho para o mundo dos sonhos.
Gostei do local e decidi ficar por lá a morar.
Os meus vizinhos são os sonhos, os segredos, as ilusões e como nada é perfeito, tenho também alguns vizinhos "chatos" como os receios e alguns tormentos.
É bom ter um mundo só nosso, rico e recheado de magia e de muita fantasia.
Este mundo que é só meu enche-me de alegrias!!!

Obrigada por este gesto tão terno!

Bartolomeu disse...

Grande menina, que vai oferecendo ao mundo a partilha dos sonhos que inventa, traduzidos em belíssimas e expressivas ilustrações!
É certo. Enquanto houver quem sonhe, o mundo não deixará de avançar!

Anónimo disse...

Quem sai aos seus não degenera!

miguel de carvalho disse...

não há maior poesia, do que aquela que irrompe teluricamente do peito de uma criança quando observa o mundo através de suas visões galopantes nos seus horizontes interiores. assim como também não há maior poesia do que aquela que uma criança faz aflorar, quando inicia os seus rituais oníricos de vida. afinal, ao princípio não era o verbo, mas era antes do verbo e este estádio primordial é o próprio verbo e o próprio tempo de uma criança ...
adorei ler e reler o texto. obrigado ...