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sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Já nem o zapping nos distrai

Dizem-me que é melhor passar a ver a BBC News porque aí ficamos a saber um pouco do que se passa no mundo em vez de pensar que está todo o mundo concentrado a roer as unhas sobre o round orçamental que se desenrola em Portugal. Mas o zapping não me deixou mais feliz, embora de facto não tenha apanhado nenhuma referência bombástica às angústias nacionais. Vi, por exemplo, imagens das greves e dos distúrbios em França, um microfone em risco de ir parar ao chão com os empurrões conseguiu transmitir a declaração emocionada de um estudante “não nos querem ouvir mas se não nos ouvirem vamos partir tudo” e, de facto, havia já vários destroços à volta da turba, incluindo um carro virado ao contrário e incendiado. Mas se a questão é o aumento da idade da reforma de 60 para 62 anos porque é que são os jovens que estão em ira e não os que vão ver adiada a sua reforma? Não acredito que estes jovens se revoltem por alguém ameaçar o seu futuro daqui a 40 anos, até seria mais razoável que se revoltassem por serem eles a pagar a factura das reformas actuais, mas não, alguém explicou que os jovens se juntaram à luta para reclamar o direito à segurança no emprego, que será dificultada pelo aumento da idade da reforma para os actuais empregados. É o que se chama olhar o curto prazo, cada um quer resolver o seu problema empurrando o outro e empurrando também os problemas que com isso se agravam, esta filosofia não augura nada de bom para os que amanhã virem as suas reformas dependentes destes novos ideólogos do projecto pessoal.
O tempo de paz e prosperidade fez-nos esquecer a terrível frase que resume o confronto na guerra: Morro eu ou morres tu?, morre tu que não te conheço de lado nenhum.
Não sei realmente se o zapping é boa ideia.

5 comentários:

Pedro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
(c) P.A.S. Pedro Almeida Sande disse...

Cara Suzana

Tomara eu que os Portugueses fossem da fibra Francesa. Não se deixavam enganar pedindo bis!
Ora veja lá isto:

Teixeira dos Santos é um economista completamente medíocre. Porque assenta a sua política não na investigação no concreto, nos efeitos, mas num fideísmo que ultrapassa qualquer modo de tomada de decisões.

Veja-se o caso do aumento do IVA dos ginásios, que parece-se mais com uma atitude voluntarista de represália tipo “ora não baixaram os preços das mensalidades quando baixou o IVA, então tomem lá aumento agora. Esqueceu-se de perguntar aos interessados que jogam o jogo da sobrevivência do não fecho, porque o não fizeram. Talvez eles lhe tivessem respondido: porque as margens estão de tal modo esmagadas ao dependerem quase totalmente de sectores de bens não transaccionáveis como a EDP, as Águas, as Galp; porque o mercado nesta actividade, ao contrário dos monopólios naturais, funciona.

Mas ao aumentar o IVA para 23% comete esta barbaridade só própria de quem não pensa. Mantêm o IVA mínimo na actividade de bancada, o espectáculo desportivo – o eterno futebol que veneram e temem - e aumenta uma actividade essencialmente virada para a saúde, que vai liquidar adicionalmente com investimentos avultados e descartáveis como piscinas. Teixeira dos Santos, decididamente, deve ser pouco adepto da actividade física, preferindo destruir aqui numa actividade que cria riqueza para aumentar a despesa no SNS. Inteligente, como se prova!

Poderia também TS pensar que aumentar o IVA devia ser mais direccionado a bens tangíveis, normalmente importados. Agradeceria a balança comercial. Mas não! Vai a serviços que têm graves implicações no emprego nacional, diminuindo produto e consequente receita fiscal. Destrói emprego interno reprodutivo, sem melhoria assinalável da receita bruta ou da balança comercial!

Os trabalhadores dos ginásios e afins entretanto irão ser atirados para a escravatura, trabalharão sem qualquer coisa no estômago: é que se os profissionais por conta de outrem descontam 11,5% para a segurança social, quer o governo pô-los a descontar 29,6% para a segurança social. Ou seja quase 30% da remuneração bruta, um aumento de 100% independentemente do aumento por via do IRS (justo apenas na medida da universalidade da medida e do descontrolo da despesa pública) para quem tem de ter por lei adicionalmente seguro de acidentes de trabalho e só recebe 11 prestações de trabalho, tantas como as efectivas e que em caso de doença não come durante um mês e que em caso de desemprego não come durante o período de desemprego – mesmo descontando!

Poderá o governo argumentar que isso são falsos recibos verdes - pois são, mas a precariedade actual desta e de muitas outras actividades, não permite que o governo faça de conta que mais de 30% dos Portugueses e uma percentagem assinalável dos jovens, muitos com uma formação académica superior à geração no poder, obriga num quadro de procura superior à oferta a "aceitar ou morrer”), ou que os 29.6% incidirão sobre 70% do rendimento bruto. É verdade, mas mesmo assim aos “Precários” (e esta medida irá recair sobre centenas de milhar que ainda não tiverem tempo de a digerir), ser-lhes-à logo amputado no mínimo em sede de “insegurança social” 20% do rendimento, criando face à Constituição da República Portuguesa mais uma inconstitucionalidade baseada numa desigualdade de tratamento dos ditos Liberais versus os TPCO.

Se tudo isto não bastasse a pergunta que se põe a estes trabalhadores é: em nome de quê se liquida emprego produtivo? Em nome da manutenção de sectores do Estado não produtivo e da multiplicação ad infinitum de empregos improdutivos? Em nome de uma efectiva mudança no Estado de racionalização da despesa? Em nome da incompetência de quem nos colocou nesta situação, pela mesma ou por estar ao serviço de outros interesses individuais ou corporativos? Em nome do criminoso tráfego de influências e favores com dinheiros que são do público?

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Suzana
Às vezes sabe bem não ler, não ouvir e não ver notícias do mundo em convulsão e transferir as nossas atenções para temas que nos ensinem alguma coisa e nos provoquem uma sensação de bem-estar, ao nos mostrarem o maravilhoso mundo em que vivemos.
Claro que não nos podemos alhear dos problemas do mundo porque contribuímos todos, melhor ou pior, para a evolução, passada e futura, do estado das coisas. Com efeito, os conflitos inter-geracionais tendem a acentuar-se, em particular, nos países que não souberam com tempo, num tempo de prosperidade demográfica e económica, desenvolver uma cultura de cidadania e de responsabilidade social capaz de questionar o primado do conjuntural sobre o estrutural e de encontrar um equilíbrio entre bem-estar das gerações actuais e das gerações futuras, envolvendo renúncias de parte a parte.
Quando vem à baila este assunto, lembro-me sempre da Noruega que criou o "Fundo do Petróleo" financiado por receitas do petróleo, consignadas para beneficiar os filhos dos noruegueses e os filhos dos seus filhos. Os decisores políticos e os cidadãos da Noruega sabendo que as reservas de petróleo não são inesgotáveis entendem que não têm o direito de as utilizar hoje em seu exclusivo benefício.

(c) P.A.S. Pedro Almeida Sande disse...

«Não é possível cortar mais despesas e precisamos de receitas.

Exmo. Sr. Ministro, A nossa família também não pode cortar mais despesas e precisa de mais receitas por isso declara junto de V. Exa. que não vai poder continuar a suportar os gastos do Estado. Se quiser venha cá a casa buscar tudo o que nos resta pois já só sobram os dedos porque os anéis já V.Exa. os tirou com este Orçamento. Melhores cumprimentos»

Anónimo disse...

Uauuu! Continuo a estar em sintonia com o (c)PAS é preciso ser-se absolutamente irresponsável e não pensar para apresentar um orçamento destes.

Já relativamente aos franceses, pois... entendam, são gauleses, os genes da revolução francesa estão lá e há, efectivamente, alturas em que "partir tudo" é uma boa ideia.

Tomáramos nós ter os ditos para começar a "partir tudo" também, mas não... a agricultura está uma desgraça e deixámos de cultivar esse tipo de fruto.