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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Se o optimismo fosse um bem transaccionável e exportável...

1.Terá sido divulgado hoje um estudo de economistas do FMI segundo o qual Portugal será um dos países/economias desenvolvidos que menor esforço de ajustamento orçamental terá de efectuar até 2020...caso consiga cumprir os objectivos de redução do défice até 2013!
2. O que o FMI diz, pois, é que se for feito o ajustamento orçamental até 2013, colocando o défice abaixo de 3% do PIB, não se tornará necessário esforço adicional significativo, sendo certo que outros países desenvolvidos carecerão de novos ajustes...
3. Mas nós bem sabemos que o mais difícil - tremendamente difícil, mesmo - será realizar o ajustamento orçamental até 2013 e que, caso esse pressuposto não possa ser cumprido, lá teremos de fazer ajustes adicionais tal como outros...
4.Em reacção a este estudo o PM, no seu estilo inconfundível – de superavitário optimismo – declarou, segundo reza a comunicação social on-line, que Portugal se encontra “na linha da frente da consolidação orçamental”.
5.Infelizmente, o optimismo (sobretudo o de tipo pacóvio) não é um bem transaccionável internacionalmente, não pode ser exportado – e parece que no mercado doméstico também é cada menos vendável, a procura tem vindo a diminuir assustadoramente - pois se fosse exportável os nossos desequilíbrios económicos teriam solução fácil...
6.Ao ler esta declaração, ilustrativa de um extraordinário grau de levitação política, ocorreu-me um velho ditado dos meus tempos de criança: “presunção e água benta, cada um toma a que quer”...

8 comentários:

Anónimo disse...

Estava há pouco a ler que a Metro do Porto só deve 2000 milhões e a fazer umas contas por alto sobre quanto teriam de lucrar mensalmente para sustentar o esforço de pagar aquilo em dez anos sem juros. É assustador! Desconfio mesmo que, se juntarmos todas estas migalhas de esforço, é de ficar aterrorizado! Ainda bem que muitos destes tipos do FMI e da UE só conhecem algumas coisas por alto. O problema é se eles um dia espreitam para debaixo do nosso tapete.

Tavares Moreira disse...

Caro Flash Gordo,

Se adicionar a essa dívida - que nunca mais será paga, condenada que está a crescer todos os anos, quanto mais não seja pela acumulação dos juros - as dívidas do congénere de Lisboa, da CP , da CP-Cargas, da Carris, dos STCP, da REFER (a maior de todas), da TAP, da RTP, da RDP, da Estradas de Portugal, dos Hospitais Públicos e EPE, das Parcerias PP, etc, etc,etc, apresentando a característica comum "sempre a crescer", os dignos representantes do FMI & Associados, quando defrontados com esse horror, poderão entrar em transe cataléptico, paralizados...

Anónimo disse...

Caro Tavares Moreira, ao ter falado agora das dívidas por aí espalhadas veio-me ao espírito uma pergunta que há algum tempo me assalta. No meio desta miríade de dívidas, directas do estado, de empresas públicas, empresas públicas municipais, ppp's e sabe-se lá que mais, ainda é possivel conseguir saber-se finamente o valor exacto do total da dívida aferido a um dado dia (31 de Dezembro, por exemplo) ou esta multiplicação de meios para aumentar o endividamento já levou mesmo a que se tenha perdido o fio à meada e não se consiga saber exactamente a quanto montam as obrigações já existentes?

Tavares Moreira disse...

Caro Zuricher,

Creio que não existe um número exacto disponível, para não espantar a procura de dívida, mas se somarmos aos quase 89% do PIB de dívida directa do Estado as dívidas das outras entidades incluídas no perímetro do sector público em sentido amplo, admito que se chegará a um valor muito próximo de 150% do PIB...
Mas como não é para pagar, mas sim para manter um crescimento saudável, não temos de nos preocupar...
Isto não tem nada a ver, como é evidente, com o facto de nos encontrarmos na linha da frente da consolidação orçamental, são coisas completamente distintas, embora andem por aí uns maldizentes - os mesmos de sempre -pretendendo que o excesso de dívida é nada desejável...

Adriano Volframista disse...

Caro Tavares Moreira

A cura para um alcoólico é deixar de beber. A formulação é simples mas, como todas as coisas simples, são muito difíceis de implementar.
Para um não, completamente, leigo, a estratégia do governo e, neste caso das autoridades nacionais em geral, revela alguns factos importantes:
a)O nível do endividamento não vai diminuir.
b) Vamos vender os aneis que ainda temos;
c)Vamos "esperar" que a economia mundial volte a crescimentos pujantes;
Trata-se de uma estratégia arrojada e precária. Mas trata-se também, de uma visão de curto prazo.
Ora o credor ou melhor, o potencial credor, ao emprestar olha para todo o período do empréstimo, e não, por exemplo, para os primeiros quatro anos.
Por isso, internacionalmente, já estão a cenarizar o "hair cut" da nossa dívida; a taxa de juro pedida e praticada é o indicador.
A afirmação dos economistas do FMI supõe que o país tenha uma atitude diferente da que tem: vivemos de/em compartimentos estanques de modo a ilidir/iludir a realidade e fugindo à resolução do problema.
Por isso, qualquer declaração como a que aludiu, é semelhante à juras pias de um qualquer alcoólico. E o que é mais interessante é que os nossos credores já o sabem.
Cumprimentos
joão

Tavares Moreira disse...

Caro João,

rigoroso o seu comentário, nomeadamente quando refere que a dívida vai voltar a aumentar...porque vai mesmo, tanto a dívida pública como a dívida global ao exterior vão continuar a aumentar e a ritmo muito elevado, qq coisa próxima de 10% do PIB ao ano.
A esta luz. acho muito interessantes as declarações que se vão sucedendo, de dignitários de vários quadrantes, recomendando solenemente que reduzamos a dívida ao exterior...
Aina gostaria de perceber como é que se reduz uma dívida que tem uma taxa de crescimento natural dessa ordem de grandeza!

Adriano Volframista disse...

Caro Tavares Moreira

Como lhe disse estamos em Plutão...
O problema é que é contagiante e contagioso.
No último Prós e Contras, onde estavam alguns dos melhores cérebros pensantes do país; dei por mim a concluir que, dos quatro participantes eram os laicos que viviam no mundo dos espíritos, (um pouco menos António Barreto) e que o homem do espírito era o que mais próximo estava do mundo dos laicos...
Cumprimentos
joão

Tavares Moreira disse...

Caro João,

Tem toda a razão, já me tinha escapado essa alteração planetária, que justifica todas estas acrobacias e paradoxos financeiros...
Quanto ao "Prós e "Contras"", não tive o gosto de o visionar e ouvir, mas confio inteiramente no seu testemunho que aliás não me deixa surpreendido, pois...estamos em Plutão como bem disse!