Número total de visualizações de páginas

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Dois pesos e duas medidas: justiça vesga

A Procuradoria-Geral da República mandou abrir um inquérito-crime para investigar o caso da ocultação de dívida pública na Madeira, e não sou eu quem vai contestar a diligência.
Mas tão grave como ocultação de dívida é ocultação de défice, ambas viciação das contas públicas. E ocultação de défice foi o que mais o Governo de Sócrates fez nos anos em que esteve no poder, de 2005 a 2011. Nesse período, a dívida pública teve um aumento muito superior aos défices acumulados, aumento esse que não é justificado pelas despesas de investimento nomeadamente em activos financeiros (aumento de capital em empresas públicas saudáveis). Assim, o grosso do diferencial entre o aumento da dívida e o acumulado dos défices só é explicável através da desorçamentação de despesas.
Por exemplo, em 2010, o valor reportado do défice foi 12,5 mil milhões de euros, enquanto a dívida pública aumentou 19 mil milhões de euros. Não está aqui, pelo menos, um indício de viciação das contas públicas que deveria levar o Procurador-Geral a investigar o que se passou?
O não o ter feito indicia uma actuação com dois pesos e duas medidas. E parece comprovar que a Justiça, não sendo cega, actua como vesga. O que é a sua própria denegação.

5 comentários:

Tonibler disse...

Caro Pinho Cardão,

Pode estar certo que os casos de ocultação de défice e de dívida (parece que toda a gente se esqueceu de o governo português ter sido apanhado pelo Eurostat a criar perímetros de consolidação fictícios para não registar dívida) terão a resposta que merecem.

Assim que o PGR acabar o inquérito às agências de rating ao serviço dos especuladores da economia de casino, estou certo que os recursos se virarão para a Madeira e para o Continente. E a mão pesada da justiça que se sentiu no caso das viagens fantasma, do fundo social europeu e de todos os casos em que altas figuras do estado se viram envolvidas, também se fará sentir neste caso. O problema é que, como todos sabemos, a culpa da Moody's em toda a situação tem que ser resolvida primeiro.

Bartolomeu disse...

A sô Dona Ângela da Mercearia, defende que os países que violem o limite de 3% do défice orçamental em relação ao PIB, ou o limite de 60% da dívida pública em relação ao PIB, "terão de abdicar de parte da sua soberania, se se verificar que o país em questão não cumpriu os seus próprios compromissos".
Qual será a parte da soberania,a que a Sô Dona ângela estará a deitar o olho?
Um seu antecessor... o Sôre Adolfo, também se lhe meteu na cachimónia, desatar a anexar países, num propósito que incluío um holocausto. Mas pronto, a Sô Dona Ângela, ao menos, pagou-nos antecipadamente, ou seja... comprou-nos. E nós vende-mo-nos, de boa vontade, em troca do enriquecimento de muitos que na política e nos cargos públicos, influenciavam e contratavam... em proveito próprio.
Até que ponto é justo, atirarmos com o ónus da desgraça, para cima de um só governante?

Wegie disse...

Segundo o Handelsblatt, Oficialmente, a dívida alemã, em 2011, é de 2 biliões de euros. Contudo, essa é apenas uma meia verdade, uma vez que a maior parte das despesas previstas com Saúde e Segurança Social, tendo sido colocadas artificialmente fora do perímetro orçamental, não são incluídas nesse cálculo. Considerando esses valores, a dívida real ascende a mais de 5 biliões de euros. Por conseguinte, a dívida da Alemanha atinge 185% do seu produto interno bruto e não os 83% oficialmente anunciados. Como termo de comparação, a dívida grega em 2012 deverá ascender a 186% do PIB da Grécia. Desde que chegou ao poder, em 2005, Angela Merkel "criou tantas novas dívidas como todos os Chanceleres das quatro últimas décadas juntos", refere o economista principal deste diário económico. "Estes 7 biliões de euros são um cheque sem provisão que nós assinámos e que os nossos filhos e netos terão que pagar."

Bmonteiro disse...

Fico desarmado, com o inquérito ás AR lembrado pelo Toninler (boa malha).
Sobre esta magna questão, a do post s/a PGR, sublinho apenas duas coisas:
a)Que papel ou papéis, durante duas décadas, dos 230 magníficos parlamentares do regime?
b)Qual o significado, no início do regime, da recuperação de um cidadão algo duvidoso, expulso do Exército no tempo da outra senhora (o 'major'), para a elite de um dos dois grandes partidos políticos?
A Justiça vesga?
Há tanto tanto tempo,que agora é tarde.

Pinho Cardão disse...

Claro, caro Tonibler, veja lá que não me tinha lembrado de tal. Depois de estar resolvido esse assunto, é que vai ser!...