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terça-feira, 27 de setembro de 2011

O "dever" acima de tudo!

Tendo de tratar de um assunto na Loja do Cidadão, encontrei por lá um amigo que esperava vez para cumprir o patriótico dever de pagar o adicional do seu IRS, grossa maquia, digna de um profissional liberal bem sucedido. Como se tratava só de pagar, esperei que terminasse a tarefa, para continuar a interrompida conversa.
Eis senão quando, dou conta de um conflito nascente entre o pagador dos impostos e o recebedor dos ditos. O meu amigo pagante pretendia pagar com três cheques bancários, mas o tesoureiro dizia que o pagamento tinha que ser feito num único cheque. É a lei, disse do lado outro funcionário atento à discussão levantada. Mas onde é que isso já se viu, ter que fazer o pagamento através de um só cheque? Nos pagamentos ao Estado é assim, repetia o outro funcionário. O pagante lá foi dizendo que não tinha dinheiro suficiente num único Banco e era ridícula essa posição do Fisco. E começou a elevar a voz, deixando escapar um ou outro pequeno impropério, que o meu amigo é gente educada. A atitude resultou, porque um outro funcionário recomendou ao recebedor para contactar o chefe. Mas o chefe já saiu, vou agora telefonar-lhe para casa? Sim, sim, não saio daqui sem que fale ao chefe... Pois é, mas se ele disser que sim, a responsabilidade continua a ser minha. A minha assinatura é que fica!...Lá falou ao Chefe. Depois de longa conversa, que o assunto era melindroso, porventura por não haver espaço para recolher 3 cheques de uma só assentada, parece que o Chefe não terá dado lá muita saída à inusitada pretensão. Disse que tomava conhecimento. Mas eu é que fiquei com a responsabilidade, ia dizendo o recebedor. Aliás sempre atencioso. Mas a lei... Diga lá é ao Chefe para dizer ao Chefe para dizer ao Chefão para mudar a lei!...

Mas o colega do lado é que não se convencia e mais uma vez avisou: a cada quantia tem que corresponder apenas um cheque. É da lei...
Perante tal lei, tem mesmo validade a máxima: perante o Fisco, o dever acima de tudo. É que, com o dever, não são precisos cheques!

11 comentários:

Suzana Toscano disse...

É caso para fazer uma alteração ao Còdigo, aproveitando o próximo OE, e especificar que, sempre que a lei diga "cheque", o contribuinte poderá, se teimar em pagar tudo, usar vários cheques, sendo devida uma taxa suplementar pelo acréscimo de trabalho causado na recolha de cada um, mais da soma que implicará, mais da conferência do total, etc, etc. Esse contribuinte está a abusar!

Tonibler disse...

Ah, o poder do impropério.....

Uma táctica nova que me ensinaram há uns tempos é a do bronco ignorante. Basta atacar o funcionário com "como é que sei que não é você que se está a abotoar com o dinheiro?", dito com um sotaque de Jesus. Na verdade, seja qual for a justificação dada pelo funcionário pode-se sempre responder "pois, isso eu não sei, o que sei é que ninguém me garante que não é você a inventar isso" e a verdade é que, ou um funcionário é advogado, ou já está... E depois, há sempre a solidariedade do resto do povo oprimido que temos que conquistar!

Bartolomeu disse...

Este relato e esta exigência das finanças, fazem-me lembrar o velho tema dos "America"; Horse With no Name"
http://www.youtube.com/watch?v=Tm4BrZjY_Sg&feature=related
Létes si de treila... Sim, eu sei que é uma relíquia mas, qué que querem... já sou velho, pertantos...
;)))

JotaC disse...

Caro Drº Pinho Cardão,
Assim até dá vontade de dever!...
Enfim, resquícios ainda de uma certa sobranceria do estado, onde o contribuinte tem apenas o direito de pagar do modo que lhe dizem e reclamar depois...

Rui Fonseca disse...

Pois, meu caro Amigo, aconteceu-me o mesmo, já lá vai mais de uma dezena de anos, o que quer dizer que a lei é dura de mudar.

Acontece que o chefe, aceitando as minhas razões (2 cheques) mandou partir a conta em duas. E, desse modo, os cheques lá ficaram e a conta paga.

O pior veio depois: durante três anos fui intimado a pagar o IRS que já tinha pago, com juros, evidentemente. Fui lá a primeira vez, o chefe que já me conhecia, mandou anular imediatamente. No ano seguinte, a mesma história. À terceira ameçavam-me com uma penhora. Mas lá acabaram por anular aquela confusão toda.

Acabei por ter pena do chefe. O homem já não sabia para onde se deveria virar. Quis resolver um problema simples e atolou-se todo no lamaçal burocrático.

Tonibler disse...

"resquícios ainda de uma certa sobranceria do estado", caro JotaC??? O que é que mudou?

Bmonteiro disse...

sempre que a lei diga "cheque".
É natural que a lei diga cheque.
Problema: o feitio miudinho, o espírito tacanho, o não arrisco, não me comprometas, de muito bom manga de alpaca, pessoal menor ou maior.
Ter de ser pago por cheque ou em cheque é sinónimo de "um cheque"?
Aposto que não deve constar na legis ou regulamenta.
Mas somos assim, achim.

JotaC disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
JotaC disse...

Caro Tonibler,
Convenhamos que alguma coisa mudou embora não tanto quanto desejaríamos. Mas todos sabemos que a "evolução" das instituições ocorre só muito depois da sociedade...

Suzana Toscano disse...

Caro Bmonteiro, deve ser mesmo esse o problema, mas o facto é que a lei também fala em "o contribuinte" ou "o sujeito passivo" e "as" contibuintes não têm dificuldades em pagar os seus impostos :)

Unknown disse...

a mim aconteceu me o mesmo. Nao paguei. Estou na lista de devedores. Levantei todo o dinheiro das contas. Esta dentro dum saco em sitio seguro. Pork razao hei de ter o dinheiro so num banco para pagar ao fisco? Em brève so querem notas de 50 euros ,para nao terem trabalho com as notas de 5,10 ou20. Mais nao tenho nada em meu nome por causa destas situaçoes estupidas. Trabalho ao negro e nao quero nada com as finanças. Pela lei e pela grei. O dever acima de tudo.